Negra, nordestina, mulher, artista e ativista. No contexto brasileiro atual, onde, de maneira nauseante, esses descritores são usados para diminuir e, acima de tudo, excluir outros e deslegitimar suas vozes, Lia de Itamaracá, quase aos 80 anos, é a vibrante voz da resistência e uma existência iluminada. Sua arma (e sua alma) é a "ciranda".

 

Com a sabedoria do trabalho e da arte, a artista, que começou a trabalhar ainda criança e nunca parou, seja atuando como merendeira em uma escola pública ou no cinema, incluindo sua participação no premiado "Bacurau", Lia carrega dentro de si o poder transformador da "ciranda". Lia também começou a atuar como empreendedora social, promovendo ações que melhoram as condições de vida em sua própria comunidade.

 

Atenta às questões ambientais, a artista contribuiu para o desenvolvimento de atividades periódicas de limpeza de praias em Itamaracá, conscientizando sobre o impacto da poluição oceânica. Além disso, foi responsável por estabelecer o Centro Cultural "Estrela de Lia", cujo objetivo principal é promover expressões culturais locais, inspirando as novas gerações e contribuindo para fomentar e diversificar o turismo na ilha, ainda fortemente centrado na beleza natural da região. Paralelamente a essas iniciativas, a artista mantém um projeto educacional para a educação de adultos. Em outras palavras, Lia aprendeu ao longo da vida a promover conexões transformadoras por meio de sua arte e do poder da "ciranda".

 

Nascida Maria Madalena Correia do Nascimento em uma família com outros 17 irmãos, a artista se apaixonou pela música ao ouvir o mar que banha sua ilha, Itamaracá, em Pernambuco. Ainda menina, aos 12 anos, outras ondas, as do rádio, trouxeram a "ciranda" para ela, um estilo musical e de dança que reinava na capital, Recife. Foi quando sua paixão se completou. Foi o início de Lia de Itamaracá, compositora e cantora, uma mestra da "ciranda" que levou essa música e sua arte não apenas para todo o Brasil, mas para o mundo. Através de sua presença magnética no palco, onde seu trabalho pode ser verdadeiramente sentido em todas as dimensões, a artista pernambucana reina.

 

Com seu talento e dedicação, Lia logo se tornou conhecida como a rainha da "ciranda" e, em 2005, foi proclamada Patrimônio Vivo de Pernambuco. Seguindo sua determinação, a artista, que tem quatro álbuns gravados, assumiu a missão de compartilhar esse ritmo com o mundo como uma arte viva e pulsante, assim como o ritmo do mar, que, aliás, inspira essa arte.

 

Assim, voltando-se às vezes para o passado quilombola e às vezes olhando para o futuro, o que Lia promove é o fortalecimento da identidade brasileira, diversa e formada por contribuições que vêm da África, da Europa e, é claro, dos povos indígenas.

 

No verão europeu de 2023, Lia de Itamaracá brilhou em palcos prestigiosos em festivais renomados como o Paléo Festival, Horizante Festival e Womad Festival, solidificando seu status como uma artista globalmente aclamada. Sua influência transcendeu fronteiras e ganhou reconhecimento internacional quando a World Music Expo (Womex) a selecionou para um showcase em 2022, confirmando sua relevância na cena musical global.

 

Além disso, em janeiro de 2024, quando Lia celebra seu octogésimo aniversário, ela será homenageada por duas das mais importantes escolas de samba do Rio e de São Paulo durante o Carnaval. A jornada artística e a voz inconfundível de Lia de Itamaracá continuam a encantar o mundo, provando que a alegria e a satisfação estão eternamente ao seu lado. A influência da "ciranda" e o talento musical de Lia transcendem fronteiras e gerações, marcando-a como uma verdadeira embaixadora da cultura nordestina.